Cavaco e o veto

terça-feira, 18 de maio de 2010 by l.

O Presidente da República falou ontem ao país, numa altura de grave crise económica, para anunciar que não vetaria politicamente a lei do casamento homossexual. Eu acho incompreensível. Politicamente falando. Ninguém duvida que se Cavaco vetasse esta lei, ela seria aprovada pelo Parlamento. Isso não está em causa. A lei iria entrar em vigor de qualquer das maneiras.


Cavaco, ao não vetar, desiludiu quem votou nele. A direita. E provavelmente agradou à esquerda. Mas vamos ser pragmáticos: se Cavaco quiser ganhar as próximas presidenciais, vai precisar dos votos da direita. E com apenas dois candidatos assumidos, ambos de esquerda, não terá grandes hipóteses de ir buscar votos a esse lado do espectro político. Por isso, com esta declaração, perdeu votos à direita e não os ganhou à esquerda. Das duas uma: ou não pensou nas repercussões da comunicação no futuro eleitorado/foi mal aconselhado; ou não se vai candidatar. Será?

Há outra hipótese: Cavaco concordava com a lei, o que duvido. E mesmo que concordasse, não devia fazer uma comunicação toda pomposa para anunciar o não-veto. Politicamente incompreensível, Cavaco deu um passo para o lado errado. E agora, se quiser ganhar eleições, terá de recuperar eleitorado que perdeu porque quis.

3 recortes:

  1. Anónimo
    18 de maio de 2010 às 22:15

    Com esta atitude Cavaco pretendeu provar ao país que não é influenciado pelas opiniões do Partido e que o cargo de Presidente da Républica está acima da política partidária.
    Surge como uma demonstração de poder e de independência.
    Esperam-se as consequências deste tiro político no pé.

  1. Anónimo
    18 de maio de 2010 às 23:29

    será que o mais importante para o país será a promulgação de uma lei que, na realidade, não tem repercussões directas na vida dos cidadãos, apenas num grupo muito restrito, ou, ao invés, o presidente da república conduzir as suas decisões com a preocupação (maior) de não perder o seu eleitorado? Sinceramente acho que o mais importante, neste caso concreto, é garantir a igualdade dos cidadãos e não construir estratégias para chegar ao poder. Afinal qual o actual conceito de política? mera estratégia?

  1. l.
    18 de maio de 2010 às 23:40

    O objectivo do post não era comentar a lei em si, mas sim tentar perceber a movimentação política de Cavaco. E como eu disse, a lei ia ser aprovada na mesma, daí eu não ter percebido qual a motivação da comunicação de Cavaco. E acha que era garantir a igualdade dos cidadãos? Não me parece.

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