Um resumo do Henrique Raposo sobre a III República, que está uma delícia:
Em 1976, numa época em que se pensava na vitória da URSS na guerra fria, uns senhores pensaram numa constituição assente no princípio da proibição do retrocesso social (aka direitos adquiridos)A coisa não funciona bem. A economia portuguesa é esmagada pelo peso dos direitos adquiridos.Não faz mal: o estado pede emprestado lá fora.Os gajos lá fora começam a ver que os portugueses não são de confiar, porque têm um estado social muito acima das suas possibilidades, e, ainda por cima, são aristocratas e desprezam a ética de trabalho.Os gajos deixam de emprestar.E agora? Enterrar 1976, pelo menos a parte da irrevogabilidade dos “direitos”.A parte sinistra é esta: a República portuguesa, que assenta na irrevogabilidade do “estado social”, foi incapaz de criar um “estado de direito”.A parte sinistra, II: os portugueses confundem "democracia" com "estado social". A maioria dos portugueses não se importava de viver num Estado Novo com um Estado Social lá dentro. Não querem saber de parlamentarismo e de estado de direito. Querem é saber do seu Estado Social, do seu subsídio, da sua educação paga e da sua saúde paga (com um hospital dentro de casa, se possível). Querem, no fundo, viver num sídio onde tudo é de borla, e onde se vota nos gajos que nos dizem que tudo deve ser à borla. Uma maravilha."